Amigos Conquistados

domingo, 11 de outubro de 2009

"Porque eu quero ter amor bem mais ainda"

A agência Mendes Publicidade foi a responsável pela produção do cartaz que ilustra a Festa da Rainha da Amazônia deste ano. O fotógrafo escolhido pela Diretoria da Festa para fazer a foto da imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré foi Miguel Chikaoka. Miguel, que possui mais de trinta anos de carreira, no ano passado, apresentou a exposição "Cenas da Fé", composta de 20 fotografias cujo tema era o Círio. O cartaz é considerado um dos símbolos do Círio. O primeiro foi produzido em 1882, e até hoje essa tradição permanece. Os fiéis têm o costume de fixar o Cartaz nas fachadas dos prédios, portas das casas, hospitais, para prestar homenagem e também pedir bênçãos à Padroeira dos Paraenses. Os antigos cartazes podem ser conferidos no site oficial do Círio: www.basilicasantuariodenazare.com.br.

Nos meus tempos de católica praticante nunca dei valor ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Fui entender o que essa procissão descomunal significava pra mim quando deixei minha casa para morar na casa dos outros.

Entendi o valor da comida especial no 2º domingo de outubro: alimento que dá tanto trabalho para ser preparado e que só nesse dia pode ser saboreado na companhia dos amigos e da família que se junta para lembrar os ausentes e comemorar os que chegam a correr pela casa ou a depender do colo e dos cuidados de quem estiver disposto e paciente. Dia também de reverenciar os mais velhos por sua sabedoria e experiência acumulada ao longo de suas vidas.

Nunca fui à uma procissão. Não tive coragem de enfrentar o calor, o tumulto e a multidão. Falta de fé, talvez. Nunca fui muito de acreditar. Mas diversas vezes a Mãe de Jesus e padroeira da família veio ao meu encontro. A Mãe da Amazônia já foi me procurar nas águas da baía, nas estradas, na praça da matriz, bem no meio de meu caminhar desavisado em terra ou em água.


Por eu ser assim tão descrente sempre admirei a fé dos outros. Os romeiros que vêm a pé de Castanhal, os que vêm de bicicleta, os que pagam suas promessas com tijolos na cabeça, aqueles que trazem velas de todos os formatos e tamanhos para colocar no "Carro dos Milagres", os anjos de branco, de azul, de cor de rosa que alçam seus vôos nos ombros de seus pais e são mensageiros da esperança. Os que caminham de joelhos, os que levam suas cruzes. São tantos os promesseiros para anunciar a fé que eu não tenho.

Muitos distribuem água, outros andam de joelhos, outros rezam, cantam e eu choro. Choro de saudades de casa. E penso em tudo o que a Senhora da Berlinda, que vai ao encontro de seus filhos por onde eles estiverem, representa para o povo tão sofrido e tão abandonado por seus governantes. Alguém deveria fazer uma promessa pra que esses mesmos governantes tivessem um pouco de descência e parassem de roubar o dinheiro público.

Eu não tenho fé para isso. Sei que o meu caminho é sem volta. Se, ou quando, um dia eu voltar a ver a Senhora de Nazaré de perto, será com olhos de turista. Mesmo assim sei, ainda que sem fé, que essa que avança como a aurora, continuará a me abençoar e a confortar meu coração tão dolorido por essa vida afora.

Tenho um amigo (sonhei com ele hoje. Deve ser saudade) que fala que tudo na vida da gente é a gente que escolhe. Nunca concordei com ele. Não escolheria jamais viver longe da Baía do Guajará. Se eu pudesse escolher, estaria hoje sob a regência das águas. Não é ingratidão com a terra que me acolheu, as montanhas que me abrigam. Mas a gente é o que é.
Que a Mãe de Jesus possa ser hoje a mãe de cada um: dos que acreditam fervorosamente e de mãos postas pedem sua benção, e dos que não acreditam. São todos filhos, uns mais fáceis outros mais pirracentos. E que de Belém venha a luz do Círio para emanar todas as famílias com esperança e todos os valores que precisamos resgatar em cada lar: respeito, tolerância, humildade e amor.

Um comentário:

  1. Belo texto, Silvia. Você sempre me emociona quando divide sentimentos. Vejo força nessa aceitação de si, mas principalmente, no respeito à fé e ao modo de manifestá-la que há nas outras pessoas a sua volta. Isso é difícil. Ter fé, talvez, seja até mais fácil.
    Um grande abraço.

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