Amigos Conquistados

sábado, 31 de julho de 2010

Os amigos

Amigos. Tenho sofrido com as ausências deles. Culpa minha de não parar quieta em lugar algum. Meus amigos são pessoas normais. Gostam de viver quietos, ter casa, família, emprego certo, a mãe por perto. Eu tenho uma vida de incertezas. A mim basta saber que minha mãe está lá e na hora que eu precisar sei que serei socorrida.

Dessa vez provei do meu próprio veneno. Minha amiga me deixou. Foi morar em Curvelo. E me deixou aqui morrendo de inveja. De inveja, de saudade, com a cabeça perturbada, cheia de preocupações. Mas que vida desgraçada! (desculpem os amigos mineiros, mas a palavra desgraçada não é palavrão no meu dialeto papa-chibé).

Preciso me aquietar. Mas essa inquietude não é culpa minha. É uma busca de não sei o quê, não sei onde. Os psiquiatras mais experientes talvez tenham por diagnóstico um tal transtorno por déficit de atenção acentuado por excessiva fé na vida, no amor e nas pessoas. Mas, dessa vez, o golpe foi duro. O que foi fazer aquela ingrata lá em Curvelo? Espero que tudo dê certo.

Acho que a vida nunca vai parar de me surpreender. Mas agora ela já está começando a me passar para trás.

terça-feira, 27 de julho de 2010

"Pauapixuna"


Uma cantiga de amor se mexeu
Uma tapuia no porto a cantar
Um pedacinho de lua nascendo
Uma cachaça de papo pro ar
Um não sei quê de saudade doente
Uma saudade sem tempo ou lugar
Uma saudade querendo, querendo
Querendo ir e querendo ficar

Férias só servem pra isso: dar uma tristeza sem fim no coração da gente. Estou eu aqui ouvindo essas músicas maravilhosas do Ruy e do Paulo André Barata na voz de sua melhor intérprete Fafá de Belém e do também inesquecível Walter Bandeira com uma vontade daquelas de voltar pra casa. O tempo que passo nas salas de aula da vida não deixa eu pensar nessa saudade que só falta me matar.

Quando estudava na UFPa tive a felicidade de conhecer o trabalho de Ruy Barata. E aprofundar o entendimento de minhas raízes culturais. Mal sabia que um dia iria derramar lágrimas e mais lágrimas com vontade de voltar pra casa, sem poder. E que Ruy iria me consolar. Foi Rogério, o Divino, quem me ensinou, entre outras coisas, a amar o Ruy.

E de repente comecei a pensar em ouvir novamente "Uma batida de remo a passar". Como nas noites enluaradas da minha vida ilhoa. Imagino a casa de meus tios abandonada lá naquele igarapé, tantos amigos deixados por lá. E tantos que não mais hei de encontrar. O que mais me impressiona é que não penso na minha própria casa na Belém Continental. Meu coração está a mercê das marés.

Maré de lance, meu tio dizia. Geralmente eu tinha medo das marés de lance porque elas estrondavam em meus ouvidos pouco acostumados a essas coisas de marés. Nessas ocasiões sempre pensava que o rio estava zangado. Talvez estivesse mesmo. Vai lá saber dessas coisas de rio. Mesmo assim gostava de ver o rio encher até não caber mais em si. E ultrapassar um limite que não era dele, mas apenas imaginado por nós.

Depois que passava a preamar vinha aquele mundo de água igarapé afora. Até o rio quase morrer transformado em um fio de água gelada. Siga os links acima e ouça/descubra (caso você não conheça ainda) o talento de Ruy Barata para fazer a gente pensar em coisas há muito esquecidas. Eu até sinto o arrepio provocado pela água gelada do rio na baixa-mar. Carlinho, com sua sabedoria e sensibilidade para as coisas da natureza, fala em preamar de enchente e preamar de vazante. Quisera eu poder esvaziar meu peito de toda essa tristeza que me invade. É maré de lance.