Amigos Conquistados

sábado, 29 de maio de 2010

A sala de aula



Hoje, depois de tantos dias de greve na rede municipal, retomei minhas atividades. Em dezembro comprei um notebook porque queria melhorar meu desempenho na sala de aula e porque achei que iria precisar por causa do curso também. Antes, em outubro, já tinha arrumado uma confusão com a direção da escola porque solicitei um data-show. A direção da escola chegou a conclusão que eu estava fora da realidade. É claro que eu surtei, esqueci que a colega era minha superior hierárquica e mandei ver. Disse a ela que não era eu quem estava fora da realidade, que o equipamento era o mínimo que eu iria querer, já que eles tinham feito o favor de transformar o espaço do laboratório de informática em sala de aula. Foi muito desagradável mas não pude me controlar...

Finalmente em março o equipamento chegou. Veio sozinho, sem o notebook. Fiquei muito feliz e até recebi os parabéns da equipe por ter sonhado tanto. E perturbado tanto. No entanto o meu SO é linux e não reconheceu o data-show. Mas, falando sério, eu adoro linux. Nunca quis mudar para Rwindows. De repente o satux (chamava Francenildo) deixou de funcionar em algumas funções e levei na assistência técnica. O técnico formatou e instalou o ubuntu (agora é Benjamin Ubuntu, relativo ao filme O curioso caso de Benjamin Button http://www.adorocinema.com/filmes/curioso-caso-de-benjamin-button porque achamos o nome parecido, só isso) agora tudo funciona, inclusive o data-show.

Então eu queria muito usar o data-show em uma aula, para ver como os estudantes se comportariam mediante uma nova tecnologia. E também como eu me comportaria junto deles. Hoje finalmente consegui. Planejei uma aula de interpretação de texto, retomando um diálogo que comecei ano passado. A maioria dos estudantes já esteve comigo nas salas de aula, em anos anteriores. O texto retomado é o "Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais..." um texto composto de 386 palavras, todas iniciadas pela letra p. Lembramos das aulas passadas na companhia de Pedro Paulo, em seguida mostrei a eles o texto.

Para continuar, vimos um outro texto onde todas as palavras começam com a letra m. Eles acharam as palavras muito difíceis e disseram também que não entenderam nada. Então mostrei a eles o vídeo http://www.youtube.com/watch?v=qIGYZFDl174. Eles ficaram encantados. Ainda mais que partimos para o texto e, quando surgia alguma dúvida sobre uma determinada palavra eu retornava ao vídeo para que pudéssemos observar a expressão do Chico e tentar descobrir o significado da palavra antes mesmo de olhar no dicionário. Assim descobrimos que macrocéfalo é um homem que tem uma cabeça grande. É claro que ter chegado ao segundo parágrafo foi um verdadeiro milagre, porque conversamos muito, rimos muito e nos divertimos muito em todos os horários. Duas turmas de sétimo ano, uma de oitavo e duas de nono.

Falamos de prosa poética, movimentos migratórios (inclusive os do sétimo ano avisaram que estavam estudando "isso" em Geografia e me explicaram direitinho a diferença entre migração e imigração), trabalho e trabalhador, transporte, vida na zona rural, as loucuras que acontecem nesse majestoso manicômio...

Tal aula seria possível sem as tecnologias da informação? Talvez. Quadro, giz, papel e caneta têm feito milagres nas mãos dos professores, esses Dom Quixotes da Educação, lutando contra dragões-moinhos.

Quero registrar aqui que foi uma experiência relevante em minha vida de educadora. Primeiro porque empreendi um grande esforço para reunir condições para que esse evento acontecesse (ainda assim fiquei devendo o áudio, que ficou um pouco prejudicado. Paciência, um problema de cada vez para resolver). Também porque sei que é apenas o começo de um processo certamente irreversível. E, por último, porque sei que estou contribuindo para que meus alunos e meus colegas compreendam que estamos no olho do furacão e que as mudanças aconteceram, acontecem e acontecerão, mas, por isso mesmo, precisamos todos estar preparados para elas. Precisamos estar preparados para esta sociedade em rede.

Quanto ao mundo moderno ainda teremos muitas atividades para realizar. Aguardem porque ainda estamos no 2º parágrafo...

E como estamos em Minas:

Um abraço e um beijo
E um pedaço de queijo.

Silvia.

terça-feira, 18 de maio de 2010

É SÓ PARA DIZER O QUANTO EU AMO SER PROFESSORA


A Escola me foi um lugar muito feliz. Recentemente em uma palestra com o Professor José Pacheco, coordenador da Escola da Ponte, ouvi-o dizer que ingressou na profissão de Professor por vingança, com o firme propósito de nunca fazer aos alunos o que havia sido feito com ele. Desde o dia que ouvi isso fiquei a pensar na Escola e o que ela representou para mim. Também aluna muito pobre, de uma família de seis irmãos e muita dificuldade.

Fui muito feliz na Escola. Quando decidi ser Professora (nem sei quando foi. Meu filho diz que eu nasci assim), queria proporcionar aos meus alunos a felicidade que um dia tive. Não sou tão jurássica assim. Semana passada completei 37 anos. Mas respeitava muito a Escola e os Professores todos. Não havia um que eu não chamasse pelo título. Orgulhava-me de comparecer às aulas com o uniforme completo: saia de pregas azul marinho abaixo do joelho, sapato preto e meia branca e a blusa do uniforme. Tudo providenciado com muito sacrifício pelos meus pais. Não era lá muito organizada, como não sou até hoje (tem coisas que nem as melhores escolas resolvem), mas sempre fui muito inteligente. Como aqueles alunos mais danadinhos que a gente sempre tem na sala. Algumas vezes estava lá "patetando" e a professora fazia uma pergunta que eu respondia. Claro que isso me causava alguns problemas porque nunca fui bem aceita pelas menininhas organizadas e bonitinhas da escola. Mas consegui sobreviver.

A única mágoa que trago da escola é que quando estava na oitava série pensei em ser escritora. Olhei de um lado para o outro e não vi ninguém com quem pudesse dividir este sonho. Nunca houve um incentivo da parte da Escola. A professora de Português era muito dura e sempre manteve uma distância muito grande dos alunos. Ela falava em vozes verbais, objetos diretos e indiretos e tudo o mais. Eu, entre meus colegas, tinha um certo talento em ajustar a teoria da gramática à prática de meus textos.

Somente mais tarde, no curso de Crisma, tive meu talento reconhecido. O Padre Pedro, que Deus o tenha, lia os textos produzidos pelos jovens do curso na missa de domingo. Os meus estavam sempre no altar à espera. Antes da benção final o Padre os lia para todos os presentes. Mais de uma vez tive os meus textos selecionados. Eu ficava sempre muito emocionada. O conselho que Padre Pedro me dava sempre em nossas conversas no confessionário era de que àquele que mais tem mais lhe será dado. Ele também dizia para eu usar com sabedoria meu talento. Tem horas que eu acho que enterrei meus talentos.

Ao final de minha adolescência a vida me levou por caminhos inesperados. E mesmo oito anos depois de ter terminado o Ensino Médio (Magistério, claro) tive uma experiência muito feliz ao passar no vestibular da UFPa. Na universidade não fui tão feliz. Fui apenas uma sobrevivente. As minhas melhores lembranças da escola estão no Ensino Fundamental.

Quero que meus alunos sejam tão felizes na escola quanto eu fui. Aqui nas Gerais não tem sido muito fácil para mim. Talvez nem para eles. Já percebi que alguns alunos têm por objetivo odiar determinados professores. Tento não assumir a condição de vítima. Afinal sou uma grande vencedora das adversidades da vida. E tento fazer sempre das minhas aulas um momento único, que nunca mais se repetirá. Nem sempre é possível. Nossas diferenças culturais são grandes, mas não são intransponíveis. A paixão que me move é muito maior que todas as dificuldades.
Eu amo ser professora. E a Escola que me fez tão feliz chama-se Colégio Nossa Senhora da Anunciação.