Amigos Conquistados

sábado, 29 de maio de 2010

A sala de aula



Hoje, depois de tantos dias de greve na rede municipal, retomei minhas atividades. Em dezembro comprei um notebook porque queria melhorar meu desempenho na sala de aula e porque achei que iria precisar por causa do curso também. Antes, em outubro, já tinha arrumado uma confusão com a direção da escola porque solicitei um data-show. A direção da escola chegou a conclusão que eu estava fora da realidade. É claro que eu surtei, esqueci que a colega era minha superior hierárquica e mandei ver. Disse a ela que não era eu quem estava fora da realidade, que o equipamento era o mínimo que eu iria querer, já que eles tinham feito o favor de transformar o espaço do laboratório de informática em sala de aula. Foi muito desagradável mas não pude me controlar...

Finalmente em março o equipamento chegou. Veio sozinho, sem o notebook. Fiquei muito feliz e até recebi os parabéns da equipe por ter sonhado tanto. E perturbado tanto. No entanto o meu SO é linux e não reconheceu o data-show. Mas, falando sério, eu adoro linux. Nunca quis mudar para Rwindows. De repente o satux (chamava Francenildo) deixou de funcionar em algumas funções e levei na assistência técnica. O técnico formatou e instalou o ubuntu (agora é Benjamin Ubuntu, relativo ao filme O curioso caso de Benjamin Button http://www.adorocinema.com/filmes/curioso-caso-de-benjamin-button porque achamos o nome parecido, só isso) agora tudo funciona, inclusive o data-show.

Então eu queria muito usar o data-show em uma aula, para ver como os estudantes se comportariam mediante uma nova tecnologia. E também como eu me comportaria junto deles. Hoje finalmente consegui. Planejei uma aula de interpretação de texto, retomando um diálogo que comecei ano passado. A maioria dos estudantes já esteve comigo nas salas de aula, em anos anteriores. O texto retomado é o "Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais..." um texto composto de 386 palavras, todas iniciadas pela letra p. Lembramos das aulas passadas na companhia de Pedro Paulo, em seguida mostrei a eles o texto.

Para continuar, vimos um outro texto onde todas as palavras começam com a letra m. Eles acharam as palavras muito difíceis e disseram também que não entenderam nada. Então mostrei a eles o vídeo http://www.youtube.com/watch?v=qIGYZFDl174. Eles ficaram encantados. Ainda mais que partimos para o texto e, quando surgia alguma dúvida sobre uma determinada palavra eu retornava ao vídeo para que pudéssemos observar a expressão do Chico e tentar descobrir o significado da palavra antes mesmo de olhar no dicionário. Assim descobrimos que macrocéfalo é um homem que tem uma cabeça grande. É claro que ter chegado ao segundo parágrafo foi um verdadeiro milagre, porque conversamos muito, rimos muito e nos divertimos muito em todos os horários. Duas turmas de sétimo ano, uma de oitavo e duas de nono.

Falamos de prosa poética, movimentos migratórios (inclusive os do sétimo ano avisaram que estavam estudando "isso" em Geografia e me explicaram direitinho a diferença entre migração e imigração), trabalho e trabalhador, transporte, vida na zona rural, as loucuras que acontecem nesse majestoso manicômio...

Tal aula seria possível sem as tecnologias da informação? Talvez. Quadro, giz, papel e caneta têm feito milagres nas mãos dos professores, esses Dom Quixotes da Educação, lutando contra dragões-moinhos.

Quero registrar aqui que foi uma experiência relevante em minha vida de educadora. Primeiro porque empreendi um grande esforço para reunir condições para que esse evento acontecesse (ainda assim fiquei devendo o áudio, que ficou um pouco prejudicado. Paciência, um problema de cada vez para resolver). Também porque sei que é apenas o começo de um processo certamente irreversível. E, por último, porque sei que estou contribuindo para que meus alunos e meus colegas compreendam que estamos no olho do furacão e que as mudanças aconteceram, acontecem e acontecerão, mas, por isso mesmo, precisamos todos estar preparados para elas. Precisamos estar preparados para esta sociedade em rede.

Quanto ao mundo moderno ainda teremos muitas atividades para realizar. Aguardem porque ainda estamos no 2º parágrafo...

E como estamos em Minas:

Um abraço e um beijo
E um pedaço de queijo.

Silvia.

terça-feira, 18 de maio de 2010

É SÓ PARA DIZER O QUANTO EU AMO SER PROFESSORA


A Escola me foi um lugar muito feliz. Recentemente em uma palestra com o Professor José Pacheco, coordenador da Escola da Ponte, ouvi-o dizer que ingressou na profissão de Professor por vingança, com o firme propósito de nunca fazer aos alunos o que havia sido feito com ele. Desde o dia que ouvi isso fiquei a pensar na Escola e o que ela representou para mim. Também aluna muito pobre, de uma família de seis irmãos e muita dificuldade.

Fui muito feliz na Escola. Quando decidi ser Professora (nem sei quando foi. Meu filho diz que eu nasci assim), queria proporcionar aos meus alunos a felicidade que um dia tive. Não sou tão jurássica assim. Semana passada completei 37 anos. Mas respeitava muito a Escola e os Professores todos. Não havia um que eu não chamasse pelo título. Orgulhava-me de comparecer às aulas com o uniforme completo: saia de pregas azul marinho abaixo do joelho, sapato preto e meia branca e a blusa do uniforme. Tudo providenciado com muito sacrifício pelos meus pais. Não era lá muito organizada, como não sou até hoje (tem coisas que nem as melhores escolas resolvem), mas sempre fui muito inteligente. Como aqueles alunos mais danadinhos que a gente sempre tem na sala. Algumas vezes estava lá "patetando" e a professora fazia uma pergunta que eu respondia. Claro que isso me causava alguns problemas porque nunca fui bem aceita pelas menininhas organizadas e bonitinhas da escola. Mas consegui sobreviver.

A única mágoa que trago da escola é que quando estava na oitava série pensei em ser escritora. Olhei de um lado para o outro e não vi ninguém com quem pudesse dividir este sonho. Nunca houve um incentivo da parte da Escola. A professora de Português era muito dura e sempre manteve uma distância muito grande dos alunos. Ela falava em vozes verbais, objetos diretos e indiretos e tudo o mais. Eu, entre meus colegas, tinha um certo talento em ajustar a teoria da gramática à prática de meus textos.

Somente mais tarde, no curso de Crisma, tive meu talento reconhecido. O Padre Pedro, que Deus o tenha, lia os textos produzidos pelos jovens do curso na missa de domingo. Os meus estavam sempre no altar à espera. Antes da benção final o Padre os lia para todos os presentes. Mais de uma vez tive os meus textos selecionados. Eu ficava sempre muito emocionada. O conselho que Padre Pedro me dava sempre em nossas conversas no confessionário era de que àquele que mais tem mais lhe será dado. Ele também dizia para eu usar com sabedoria meu talento. Tem horas que eu acho que enterrei meus talentos.

Ao final de minha adolescência a vida me levou por caminhos inesperados. E mesmo oito anos depois de ter terminado o Ensino Médio (Magistério, claro) tive uma experiência muito feliz ao passar no vestibular da UFPa. Na universidade não fui tão feliz. Fui apenas uma sobrevivente. As minhas melhores lembranças da escola estão no Ensino Fundamental.

Quero que meus alunos sejam tão felizes na escola quanto eu fui. Aqui nas Gerais não tem sido muito fácil para mim. Talvez nem para eles. Já percebi que alguns alunos têm por objetivo odiar determinados professores. Tento não assumir a condição de vítima. Afinal sou uma grande vencedora das adversidades da vida. E tento fazer sempre das minhas aulas um momento único, que nunca mais se repetirá. Nem sempre é possível. Nossas diferenças culturais são grandes, mas não são intransponíveis. A paixão que me move é muito maior que todas as dificuldades.
Eu amo ser professora. E a Escola que me fez tão feliz chama-se Colégio Nossa Senhora da Anunciação.





quinta-feira, 22 de abril de 2010

Greve: necessidade da categoria, luta de poucos, omissão de alguns, vitória de todos.

A viagem começou cedo. Eu saí de casa às cinco e meia da manhã para chegar a Betim no horário combinado. Encontro com os amigos, festa, esperança no olhar e no coração. Partimos animados. Pelo caminho encontramos outros amigos, esperançosos como nós. Cada um com a sua história, com a sua dificuldade e com a sua dignidade.

A chegada a São João Del Rei e o encantamento. Enquanto pela BR 040 encontrávamos um ônibus com quarenta trabalhadores de determinada cidade, uma van ou outra, na chegada à cidade eles foram se somando. Não sei quantos. Só sei que eram tantos que eu não podia contar. Cada um trazendo mais um tanto de amigos. E todos com o coração batendo mais forte, como o meu. Uma festa. Moradores nos paravam na rua para perguntar de onde viemos: Juiz de Fora, Esmeraldas, BH, Betim, Arcos, Congonhas, uma infinidade de lugares, uma infinidade de pessoas.

Somos tantos. Tantos que acreditam em justiça, em um país que faça cumprir as leis, em um país que respeite os direitos dos trabalhadores da Educação. Todos eles. Não fui à São João Del Rei passear. É claro que percebi que a cidade é linda, limpa, organizada. Também vi a estátua de Tiradentes, vi a faixada de algumas igrejas, andei por algumas ruas que imaginei históricas. Meu grande interesse era a Assembleia. As informações acerca do movimento.

Quem não foi, perdeu. Quem ainda não aderiu à greve também está perdendo. Perdendo uma grande oportunidade de lutar contra a injustiça e contra a desvalorização da categoria.

A transferência da sede política e social da capital Belo Horizonte para São João Del Rei foi de uma grandeza simbólica nem sempre comum nesses dias de banalização de tudo o que há de ético e poético no país.

O resultado é que continuamos em greve por tempo indeterminado. A próxima assembleia da categoria será dia 29/04, em Belo Horizonte. O governo parece não se preocupar que os estudantes praticamente não tiveram aulas em abril. "Eu quero ver o governador viver com o salário de um educador".

segunda-feira, 15 de março de 2010

16 de Março: Paralisação Nacional. Em Belo Horizonte vamos inaugurar a Cidade Administrativa

Para os que trabalham em Belo Horizonte e região metropolitana a mobilização se dará na Cidade Administrativa Aeciolândia, a partir das 14 horas.

Já que ninguém foi convidado para a inauguração oficial da Tancredolândia, com direito a interpretação tão emocionada do Hino Nacional na voz da conterrânea Fafá de Belém e também pela oportunidade única de ouvir Canção da América, na voz de Milton Nascimento, agora vamos todos nós, trabalhadores da educação, tomar posse da tão bela e tão bem planejada cidade administrativa.

O cordel: Oficina livre.

Ainda no dia 12 de setembro, após o almoço, nos reunimos novamente para o estudo da literatura de cordel e suas aplicações em sala de aula. Assistimos a vários vídeos sobre a lenda do Cabeça de Cuia e sobre a Literatura de Cordel. Esta atividade era parte do trabalho que viria a seguir:

Utilizando pincéis, tintas, bandejas de isopor, cola, estilete e criatividade passamos para a segunda parte de nossa oficina. Com base na Lenda do Cabeça de Cuia, criamos a Lenda do Cabeça de Fogo e, para ilustrar a lenda, produzimos um carimbo, utilizando as bandejas de isopor e todo o material que fora providenciado.

Levei para as cursistas um carimbo que eu tinha construído a partir da Lenda do Rio Amazonas e elas gostaram muito. Eu já havia experimentado também, com os alunos dos 6ºs anos, um trabalho de carimbos a partir de trava-línguas, sugerido no AAA5. Levei para elas observarem e elas consideraram um trabalho muito interessante.

Texto coletivo:
A lenda do cabeça de fogo.

O povo não acredita
Em história de cachaceiro
de vaqueiro e pescador

E diz que toda mentira
tem um fundo de verdade
se dita por muita gente.
E uma história de verdade
contada como brincadeira
Por mais real que pareça
Nunca será verdadeira.

Existe história lendária
Que com tempo ganha fama

Há muitos anos atrás
Existiu em Minas Gerais
Um pinguço, um cachaceiro
Chiva era seu nome
Cresceu sem religião
Sem pai e sem irmão
Sua mãe muito velhinha
Sem mágoa no coração.

Chiva, o preguiçoso
Não aprendeu trabalhar
E, devido a bebedeira,
Danava a esbravejar.
Vivia ameaçando
Dava soco, dava gritos
Agredia a todo mundo
Os outros eram malditos.
Sua mãezinha chorava
Muito tristonha a velhinha.

Sem esperança na vida
Em sua pobre casinha
O sofrimento do filho
sem trabalho e sem vontade
de dar a volta por cima
Vendo o filho em desespero
A bebida o consumia
Sem ter sorte na vida
A mãe se compadecia.

Mais uma vez a cachaça
E Chiva chegou zangado
Não tinha arrumado trabalho
E irritado bebeu
muito mais do que podia
E xingava todo mundo.
Sua mãe, que culpa tinha?
Mas ela lhe disse: - Filhinho
Não pense mais em mazela
E tome um café com pão.

Nervoso, tinhoso, ficou
Foi lá no fogão à lenha
E pegou de uma panela
Sentou na cabeça dela.
A pancada muito forte
Levou a velhinha à morte.
E de tão desesperado
Chiva ficou azul.
Com a cabeça amassada
E muitos dentes quebrados
Só lhe restou mesmo um.

Em desespero sombrio
Nem pensou no que fazia
E enfiou sua cabeça
No meio da brasa que ardia
E o povo, muito assustado
batizou "Cabeça de Fogo"
o monstro azul do povoado.
E a sombra da maldição
acompanhou-o para sempre
a partir daquele dia.

Após a produção textual e também da imitação da xilogravura (carimbo na bandeja de isopor), passamos a uma conversa breve a respeito de algumas formas de utilizar o trabalho com a literatura de cordel em nossas turmas do Ensino Fundamental. Um comentário que me deixou muito satisfeita foi o seguinte: "Sempre achei que seria muito difícil realizar uma atividade como essa em sala de aula. Vejo agora o quanto me enganei".

Encerramos a atividade e marcamos o próximo encontro para o dia 26 de setembro. A ideia principal era encerrar os estudos do TP6 e iniciar os estudos do TP1.


Os vídeos utilizados estão nos endereços eletrônicos abaixo. Além deles, foi também utilizada uma apresentação em power point produzida pela Professora Simone, de Brumadinho que, generosamente, compartilhou de seu trabalho maravilhoso com todos os formadores do Gestar II, da região de Belo Horizonte.
http://www.youtube.com/watch?v=OTxEL9lptW4

http://www.youtube.com/watch?v=9c5wlJCfm1g

quarta-feira, 3 de março de 2010

BBB 10




É a vida. Fico até meio sem graça quando vejo todo mundo falar (mal) do BBB. Na verdade podem falar à vontade porque é um assunto que não me diz respeito. Não me interessa nem um pouco. Não toco nesse assunto durante minhas aulas, meus alunos nem conversam comigo sobre isso. Na verdade nem considero o BBB um assunto. É mais uma falta de assunto que qualquer outra coisa. A única coisa que me chateia é ver o Pedro Bial envolvido nisso.

Tem muita situação por aí que é igual ou pior ao que se vê na tv, na "casa". Uma dessas coisas é observar, nas escolas nas quais trabalhamos, ser nomeado um diretor por ele ser "da panela" do prefeito, mesmo que o tal diretor não tenha competência para isso ou que ele não tenha qualquer vínculo funcional com a escola. Coisas como problemas que enfrentamos todos os dias em nossas escolas como a discussão pífia de um piso salarial pífio de 40 horas semanais ou de até 40 horas horas semanais. Ou de um processo de avaliação de desempenho cheio de incoerências e intransparências. Coisas assim tão importantes que as pessoas não costumam questionar.

Programas como o BBB devem servir para alienar o povo que, no caso dos professores, em vez de discutir salário, melhores condições de trabalho, reivindicar direitos já adquiridos e exigir o cumprimento da lei (de todo aquele monte de leis sobre educação, pois a única lei que parece existir naquela LDB é a lei dos 200 dias letivos), fica muito preocupado em saber e em "votar" no próximo eliminado do programa. Pão e circo para o povo.

Não é preciso desespero. Todo mundo tem um controle remoto nas mãos. É só desligar a tv e procurar um livro pra ler. Meu amigo Ronald diz que a tv é um demônio. Eu não ligo. Não vivo sem tv. Mas também não assisto BBB. Ponto final.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Navio Negreiro

Precisei baixar do youtube este vídeo para produzir um podcast. Fiquei apaixonada pela voz de Caetano nessa homenagem fantástica ao maravilhoso Castro Alves. Lindo!

www.youtube.com/watch?v=fwRu0MoxfRw

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"Vida Maria"

Depois daquele banho fantástico que foram os encontros de formação do Gestar II, em Belo Horizonte e aqui em Esmeraldas, não dava mais pra voltar pra fórmulas das aulas de antigamente. Não dava e não dá. Então é preciso reconstruir a prática todos os dias. Sem tempo para planejar um trabalho interdisciplinar fica muito difícil. Mas a gente vai se encontrando na sala dos professores e vai tentando organizar as ideias a partir do que cada um tem para trabalhar e vai também trocando experiências.
Já deu pra perceber que, neste ano letivo, os estudantes estão menos agitados. Não há casos muito graves de indisciplina, pelo menos não aqueles casos gravíssimos como tivemos o ano passado. Também não tive a oportunidade de ficar com nenhum 6º ano. O Professor José Maria, meu colega de Português, ficou com as quatro turmas.
A Escola Municipal João José dos Passos é linda, mas não tem equipamento algum. Uma pena. Não tem retroprojetor, não tem projetor, não tem uma biblioteca que funcione direito, não temos livro didático, (o que não é tão terrível assim), não tem copiadora. Ontem mesmo, pra que a professora pudesse exibir um longa pras turmas de 8º ano foram 40 minutos só pra achar a chave da sala onde fica a tv e o dvd. Mesmo assim tem gente que fala "édifícil é um predin". Ah, depois de um incêndio que causou um estrago daqueles em uma unidade da rede, agora podemos contar com extintores de incêndio.
Mesmo assim, antes do carnaval, trabalhei com o curta do Márcio Ramos, Vida Maria, com duas turmas de 9º ano, duas turmas de 7º ano e uma turma de 8º ano. A primeira coisa que eles estranharam foi o formato "curta". Foi a primeira vez que eles tiveram contato com esse gênero. E, quando eles pensavam que o filme ia começar, o filme acabou. Alguns ficaram, em um primeiro momento, muito frustrados. Um deles comentou que um comercial da coca cola dura mais que o filme. Então decidimos que precisamos de uma pessoa ligada ao cinema para falar mais para nós sobre o que é um curta.
Conversamos muito sobre o que é uma "vida maria". Muitos estudantes, em grupos de três ou quatro, sugeriram o que é preciso fazer para não ter uma vida dessas. Então sugeri que cada grupo produzisse um gênero textual baseado no filme. Os estudantes criaram muita coisa legal. Uma produção que muito chamou minha atenção foi um "informativo". A equipe criou personagens que, após assistirem ao curta, tiveram seus depoimentos registrados. Houve até uma depoente que não quis ser identificada.
Surgiram cartas ao prefeito de alguma cidade do Ceará (eles procuraram no Atlas) para que ajudasse Maria com escola, posto de saúde, emprego, bolsa-família... surgiram convites para assistir ao curta, surgiram re-contos com final feliz para a história de Maria. Alguns grupos queriam escrever para Maria, no entanto desistiram porque ela não sabia ler e também não havia ninguém que pudesse ler para ela (eles imaginaram isso). Queriam aconselhá-la a não ter tantos filhos.
Ainda surgiram gêneros inusitados como capas para o dvd, um vídeo editado no movie maker (com direito a papel de parede e trilha sonora) e outro editado no power point, com fotos sobre o sertão do Ceará. Claro que mostrei os trabalhos mais relevantes em todas as salas. Alguns grupos, depois de assistirem aos dois vídeos, comentaram: Por que não fizemos nosso trabalho assim? Escolhi alguns trabalhos para fazermos a revisão textual.
Eu senti que estava no caminho certo quando um dos estudantes do 8º ano perguntou quando é que eu iria começar a dar matéria para a prova porque até agora ele não tinha nada no caderno de Português. Falei a ele que não se preocupasse porque estava dando tudo certo, melhor do que eu havia planejado.
Esse trabalho com o curta "Vida Maria" durou 5 horas aula. E ainda proporcionarei a revisão de um texto. Falamos sobre direitos humanos e algumas leis que protegem as crianças e os adolescentes. Nada muito aprofundado. Falamos sobre a Constituição, o ECA, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O direito à Educação, moradia digna, acesso à saúde. Foi muito produtivo. Muitos temas serão retomados no decorrer do ano letivo, pois não dá pra falar tudo em um trabalho como esse. A experiência com o curta foi muito interessante. Assim que passarem os feriados de Carnaval trabalharei com eles Meow, o gato que bebe refrigerante.
Para o pessoal que não vive longe da gramática informo que trabalhei com eles substantivo e adjetivo [(revisão. Será?). Note-se que no título do curta o substantivo Maria é utilizado como adjetivo. Isso aí já dá pra fazer uma monografia].
Bom, a postagem já está maior do que eu e nem deu pra falar tudo. Depois eu conto como foi legal um trabalho realizado na primeira semana de aula, dias 03, 04 e 05 de fevereiro, com o vídeo do Zeca Baleiro, Salão de Beleza.
Bom ano letivo aos amigos gestadores desse Brasil afora. Beijos e a abraços da Silvia!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Atendimento Pedagógico 2010

Muitos blogs estão em clima de despedida e de saudade. Aqui em Esmeraldas, nada disso. Estamos trabalhando muito para concluir os "portifilhos", projetos de intervenção e dar conta de 20 horas de estudos presenciais. Algumas oficinas ainda nem foram postadas aqui no blog.
Então no dia 19/01 parti em busca de duas cursistas que moram na sede do município para prestar atendimento pedagógico. Levei o portifólio de Ariaine para mostrar às duas e elas ficaram encantadas com o trabalho da Professora-Cursista. Uma questão que ficou evidente foi a de que cada portifólio é diferente. Cada um fica parecido com as mãos de quem o fez. Apesar de ajudar muito ver um portifólio pronto ficou claro que nenhum ficará igual ao outro.
Com uma terceira cursista do programa tenho mantido contato por telefone. Enquanto a maioria das professoras preferiu entregar o trabalho em formato digital (cd), ela preferiu organizar o portifólio e entregá-lo encadernado. Está também em fase de conclusão.
Uma notícia boa: A Secretária de Educação, Professora Jane Diniz, convidou-me para continuar o Gestar II, em 2010. Como não sou de correr da luta aceitei na hora e coloquei-me à disposição do Programa e da Secretaria, caso haja Professores da rede interessados em participar da formação. É esperar pra ver. Penso em convidar o Rafael, formador de Matemática, para expor os portifólios e os projetos prontos na reunião com professores que a Secretaria de Educação promoverá no início do ano letivo de 2010. É uma forma de divulgar o trabalho que fizemos em 2009 e estimular os colegas a participar.
Abraços para os amigos e amigas do Gestar II. Não deixem de postar nos blogs. Tenho visitado vocês mas nem sempre é possível deixar comentários. É só por causa de problemas técnicos.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Para começar bem 2010




Depois que iniciei o módulo de acolhimento do curso de pós-graduação fiquei um pouco mais ousada no uso das tecnologias da informação. As cursistas daqui de Esmeraldas enviavam uns arquivos por e-mail que eu nunca conseguia abrir. E ficava pensando em como fazer para abrir e ler o que elas enviavam. Não tinha nem coragem de perguntar pra alguém como fazer para conseguir ler esses arquivos. Depois que a gente deixa de ser analfabeto digital desenvolve uns escrúpulos nunca antes imagináveis. Acho que é o desconfiômetro que liga. A gota dágua foi quando a Ariaine, a cursista da Escola de Urucuia, entregou-me o portifólio e o projeto que ela construiu com a Adriana, Professora-Cursista de Matemática.


Quem disse que o computador abriu o cd? Eu, que já tinha comprado o notebook, tinha certeza que o aquivo abriria. Não abriu. É linux. Não abre nada. E agora? Perguntei pro Google. Nem sabia direito o que perguntar. Apenas desconfiava que o programa era 2003 e eu precisava de um programa 2007. Achei! O Senhor Google me disse que eu precisa apenas instalar uma coisinha que daí por diante eu não teria mais problemas quando abrisse arquivos mais recentes.


Esse Gestar... Não para de me ensinar as coisas que eu preciso aprender!Instalei a coisinha e abri o cd. Que bela surpresa. Como dizem os mineiros: "Quascaí"(quase caí). O portifólio da Ariane ficou lindo! Fiquei muito emocionada de ver um trabalho tão bonito por eu saber, além de outras coisas, do trabalho que deu pra fazer. Eu acompanhei de muito perto essa gestação. Na mesma hora liguei para ela, para parabenizá-la pelo excelente trabalho.


A Ariaine Alves Costa foi a cursista mais presente nas oficinas. Ela acompanhou o curso desde a primeira reunião. Pontual, dedicada, muito competente. Organizadíssima, como poucas pessoas conseguem ser, ela construiu um projeto interdisciplinar com a Cursista Adriana, de Matemática. Quando eu fiz a visita em Urucuia, em outubro, percebi o carinho e o respeito dos estudantes e da comunidade pela Professora e o compromisso dela na aplicação das atividades para a construção dos relatórios.


É o Gestar transformando.


Tentei de tudo para encerrar as oficinas junto com o ano letivo. Percebi que muita coisa ficaria para trás. Então, após conversar com as cursistas, optamos por terminar em fevereiro. Assim poderei fazer as visitas nas escolas e acompanhar a consolidação dos projetos de intervenção. Durante esse período também acompanharei algumas cursistas que ainda não conseguiram terminar os portifólios, entre outra ações.

Não sei com ficará o Gestar II aqui em Esmeraldas. Ainda não conversei com a Coordenadora do Programa, Mariana. O que há de concreto é a falta de interesse do corpo docente do município em participar do Programa. Por isso não tenho esperanças de que a formação continue. O que é lamentável. Até o momento está previsto apenas que terminemos o que começamos com as quatro cursistas que ficaram: Andrea, Ariaine, Nolfira e Rosely.

Participar desse Programa foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida profissional. E a melhor maneira de começar bem o ano é agradecendo. E a melhor maneira de agradecer é por em prática tudo o que aprendi com meus amigos do Gestar, com os formadores da UNB, Professora Catia, Professora Cida e Professora Rosa Olímpio. Há também os blogueiros do Norte, do Sul, do Sudeste, do Centro Oeste e do Nordeste. Gente de todos os cantos do país que se encantou no embalar dessa rede poderosa que é o Gestar II.
É 2010 que chega cheio de esperanças. São poucas as certezas: a mudança da lua, a maré em movimento, o dia e a noite. Tudo é um vir a ser. Há muito que se construir. Antes, minhas mãos estavam vazias. Agora tenho ferramentas que me proporcionam a esperança na constução de um mundo melhor. Tenho companheiros que querem também essa construção. Não estou mais sozinha e sei por onde começar. Mãos ao trabalho!