Amigos Conquistados

terça-feira, 18 de maio de 2010

É SÓ PARA DIZER O QUANTO EU AMO SER PROFESSORA


A Escola me foi um lugar muito feliz. Recentemente em uma palestra com o Professor José Pacheco, coordenador da Escola da Ponte, ouvi-o dizer que ingressou na profissão de Professor por vingança, com o firme propósito de nunca fazer aos alunos o que havia sido feito com ele. Desde o dia que ouvi isso fiquei a pensar na Escola e o que ela representou para mim. Também aluna muito pobre, de uma família de seis irmãos e muita dificuldade.

Fui muito feliz na Escola. Quando decidi ser Professora (nem sei quando foi. Meu filho diz que eu nasci assim), queria proporcionar aos meus alunos a felicidade que um dia tive. Não sou tão jurássica assim. Semana passada completei 37 anos. Mas respeitava muito a Escola e os Professores todos. Não havia um que eu não chamasse pelo título. Orgulhava-me de comparecer às aulas com o uniforme completo: saia de pregas azul marinho abaixo do joelho, sapato preto e meia branca e a blusa do uniforme. Tudo providenciado com muito sacrifício pelos meus pais. Não era lá muito organizada, como não sou até hoje (tem coisas que nem as melhores escolas resolvem), mas sempre fui muito inteligente. Como aqueles alunos mais danadinhos que a gente sempre tem na sala. Algumas vezes estava lá "patetando" e a professora fazia uma pergunta que eu respondia. Claro que isso me causava alguns problemas porque nunca fui bem aceita pelas menininhas organizadas e bonitinhas da escola. Mas consegui sobreviver.

A única mágoa que trago da escola é que quando estava na oitava série pensei em ser escritora. Olhei de um lado para o outro e não vi ninguém com quem pudesse dividir este sonho. Nunca houve um incentivo da parte da Escola. A professora de Português era muito dura e sempre manteve uma distância muito grande dos alunos. Ela falava em vozes verbais, objetos diretos e indiretos e tudo o mais. Eu, entre meus colegas, tinha um certo talento em ajustar a teoria da gramática à prática de meus textos.

Somente mais tarde, no curso de Crisma, tive meu talento reconhecido. O Padre Pedro, que Deus o tenha, lia os textos produzidos pelos jovens do curso na missa de domingo. Os meus estavam sempre no altar à espera. Antes da benção final o Padre os lia para todos os presentes. Mais de uma vez tive os meus textos selecionados. Eu ficava sempre muito emocionada. O conselho que Padre Pedro me dava sempre em nossas conversas no confessionário era de que àquele que mais tem mais lhe será dado. Ele também dizia para eu usar com sabedoria meu talento. Tem horas que eu acho que enterrei meus talentos.

Ao final de minha adolescência a vida me levou por caminhos inesperados. E mesmo oito anos depois de ter terminado o Ensino Médio (Magistério, claro) tive uma experiência muito feliz ao passar no vestibular da UFPa. Na universidade não fui tão feliz. Fui apenas uma sobrevivente. As minhas melhores lembranças da escola estão no Ensino Fundamental.

Quero que meus alunos sejam tão felizes na escola quanto eu fui. Aqui nas Gerais não tem sido muito fácil para mim. Talvez nem para eles. Já percebi que alguns alunos têm por objetivo odiar determinados professores. Tento não assumir a condição de vítima. Afinal sou uma grande vencedora das adversidades da vida. E tento fazer sempre das minhas aulas um momento único, que nunca mais se repetirá. Nem sempre é possível. Nossas diferenças culturais são grandes, mas não são intransponíveis. A paixão que me move é muito maior que todas as dificuldades.
Eu amo ser professora. E a Escola que me fez tão feliz chama-se Colégio Nossa Senhora da Anunciação.





2 comentários:

  1. Professora colega amiga Sílvia,
    Você jamais enterrou ou enterrará seus talentos!
    Suas palavras prendem, atiçam, revelam com o primor que só os grandes escritores são capazes.
    Adoro ler seus posts!
    Beijão,
    Cida.

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  2. SILVIA EU AMO LER SEUS POSTS E CONCORDO COM A CIDA, ASSIM QUE COMECEI LER ONDE VC DIZ QUE ACHA QUE ENTERROU SEUS TALENTOS, PENSEI VOU POSTAR UM COMENTARIO PRA ELA, POREM A CIDA ESCREVEU PRIMEIRO; VC NUNCA ENTERROU SEUS TALENTOS MTO PELO CONTRÁRIO VC OS USOU MAGNIFICAMENTE BEM, SÓ QUEM NÃO TE CONHECE PODERÁ CONCORDAR COM ESTE PENSAMENTO SEU, TENHO CERTEZA QUE FOI SÓ UM MOMENTO DE , DIGAMOS ASSIM, DE TRISTEZA QUE VC TEVE, COM TD CARINHO, VC É OTIMA PACIÊNCIA DE JÓ , QUE DEUS LHE CONCEDEU,BJÃO PRA TI!!!!!!!!!!

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